sábado, 1 de novembro de 2008

Beijos de Judas

Beijos dados no escuro
Da noite que abrigava
O negrume de um futuro
Onde uma lágrima morava.
Foram beijos simulados
Com sabor de amargo ardil.
Foram carinhos trocados
Na forma mais pueril.
Beijos dados com amor,
Com primor ou amizade
Não são sinónimos de dor
São os beijos de verdade.
Beijos assim não se dão!
São roubados, tão-somente!
Vão quebrando o coração,
Furtando a alma da gente.
Foram beijos de amor
Nessa história mal contada?
...
Agora, sem terem cor
São beijos da cor do nada.
Se alguém assim te beijar,
Tem cuidado, não te iludas.
Não te estão a oscular!
São puros beijos de Judas.

domingo, 1 de junho de 2008

In Felicidade

Há palavras que desenham
Em qualquer cara um sorriso
Não interessa como venham
Pode até ser de improviso
Mas há uma em especial
Que toda a gente procura
E não soa nada mal
Quando lhe chamam ventura.
Se a chegamos a encontrar
Na forma superlativa,
Podemos até chorar,
Ou rir de forma impulsiva.
Não se consegue comprar,
Nem tem marca ou modelo,
Pode a tez embelezar
Mas não dá brilho ao cabelo.
Costuma estar bem impressa
Na face de uma criança
Que vive a vida sem pressa
Embalada pela bonança.
Chega até a estar escondida
Num discurso imperfeito
E apesar de ser comprida
Cabe bem cá no meu peito.
Não há ocasião perfeita
Para a conseguir encontrar
E também não há receita
Ou modo para a formular.
Anda sempre acompanhada
Pela sua irmã verdade
E às vezes de mão dada
Com a prima sinceridade.
Basta viver simplesmente
Fazendo-o com alegria,
Aproveitar tão-somente
O melhor do dia-a-dia!
És difícil de encontrar,
Não deixa de ser verdade,
Mas continuo a pensar
Em ti, ó felicidade!
E quando eu te achar,
E tu fores dona de mim,
Ninguém te vai colocar
Aquele prefixo “In”!

domingo, 18 de maio de 2008

Não chores

Se choras porque estás triste
E te dói o sentimento,
Tu sabes bem que existe
Nesse preciso momento
Alguém que chora contigo
E que apesar da distância
Será sempre teu amigo
Em plena consonância.
Se choras só por vontade
Que a alma te faz cumprir,
Lembra-te, tenho saudade
De olhar o teu sorrir.
Mesmo quando estás triste
É belo o teu semblante,
Mas se por acaso sorriste
Ainda é mais radiante!
O choro faz parte da vida
Nos momentos de improviso
Mas para curar qualquer ferida
O melhor é o teu sorriso!

Frases caladas

Sentado na areia molhada,
Sentindo a brisa do mar,
Escutando a balada
Que a água toca ao deslizar,
Libertando o pensamento
Para que ele possa voar,
Abrindo as asas ao vento
Onde ele ama planar.
Quando o espírito fica livre
E ausente de fantasia,
Deixo que o corpo vibre
Respirando a maresia.
Sinto na face o calor
Daquela estrela brilhante
Que me aquece com o fulgor
Da luz mais inebriante.
Fecho os olhos e escuto
O que o mar me quer dizer
Aqui neste meu reduto
Onde me tento esconder.
Venho procurar respostas,
Às perguntas complicadas,
A razão que não me mostras
Nas tuas frases caladas,
O porquê da inconstância,
As mudanças de atitude,
A causa da circunstância
Que te rouba a quietude.
Nesta areia onde me sento
Há pegadas magoadas
Que as ondas do sentimento
Vão tornar dissimuladas.
A maré está a subir
Nesta praia abandonada,
Bem…
Está na hora de partir,
Para longe desta enseada.

domingo, 11 de maio de 2008

Modesta timidez

Há expressões que me faltam
No mais simples dia-a-dia
Quando as emoções me assaltam
Da forma que eu mais não queria
As palavras vão-se embora
No mais curto dos momentos,
Deixando sem qualquer escora
A expressão dos pensamentos.
Podem ser vários os motivos
Que me emudecem o falar,
Mesmo estando com amigos
Em quem posso confiar.
Um gesto mais atrevido,
Uma frase mais picante,
Um murmúrio ao ouvido,
Um olhar mais penetrante.
Não é grande a frequência
Com que eu sofro deste mal,
Não me afecta a convivência
Nem me põe no hospital,
Não é uma maleita grave,
Nem pede receituário,
É um momentâneo entrave
Para o meu vocabulário.
A esta razão premente,
Que não me deixa falar
E me afecta a fluidez,
Podeis todos vós chamar
Apenas e simplesmente
De modesta timidez!

domingo, 20 de abril de 2008

Tiquetaque

É no pêndulo oscilante
De um relógio pendurado
Que navega o instante
Entre o presente e o passado.
No espaço que percorre
O pêndulo vai desenhando
Uma linha que não morre,
Se a corda for durando.
Tiquetaque… tiquetaque…
É o ritmo cadenciado
Que palpita sem destaque,
Num coração sossegado.
Mas se um olhar se cruzar
Com outro bem atraente
O tiquetaque vai passar
A bater rapidamente!
Tiquetaque… tiquetaque…
É este o falar do tempo,
Numa língua sem sotaque
De perfeito entendimento.
E quando os lábios se beijam
Nos mais ardentes instantes
Os segundos não sobejam
No tiquetaque dos amantes.
Há horas que são compridas
E custam muito a passar,
Por vezes até deixam feridas
Bem difíceis de curar.
Os tiquetaques que a vida
Faz intenção de nos dar
Só a tornam bem vivida
Se os soubermos gozar!
E se há alguém que te diz
Que tu és especial,
Fazendo-o sinceramente,
É um tiquetaque feliz.
Podes não ter outro igual!
Aceita-o alegremente!

sexta-feira, 18 de abril de 2008

O Verbo

De que são feitos os beijos
Que teimas em me negar
No mais sóbrio dos ensejos
Quando te vejo ao luar?
Quem pintou esse sorriso
Que primas em franquear,
Da cor que o improviso
Acabou por foguear?
Quem te deu o caminhar
Que mostras exuberante
Se me tento avizinhar
Do teu alento anelante?
Quem assim te edificou
Era das artes mentor,
E por certo que corou
Quando te outorgou o fulgor.
É um discurso genuíno,
Enredado é o seu exórdio
Num português sibilino
Quase em jeito de nó górdio!
Mas eu vou simplificar
Para que possas entender,
Sem teres que me perguntar
O que eu te estou a dizer.
Vou então continuar,
E tu vais bem lentamente
Começar a conjugar
Um verbo que anima a gente,
E que eu passo a enunciar:
Qual é o presente do indicativo
Na terceira pessoa do singular
De um verbo que é transitivo
E dá pelo nome de “amar”?
...
Tens quase a resposta certa,
Não foi preciso pensar,
Nem te deste muito mal,
Mas para ficar mais correcta
Vais ter que lhe acrescentar
O teu pronome pessoal!

domingo, 13 de abril de 2008

Matemática da vida

Foi na escola primária
Que eu aprendi a contar
Os números que da Arábia
Vieram para me educar.
Desde o um até ao dez,
Passando pelos outros oito,
Para os contar com rapidez,
Eu tive de ser afoito.
Para escapar à reguada
Que exibia a professora,
Aprendi a tabuada
Sem usar calculadora.
Quando deixei de ser menino
E de jogar à apanhada,
Fez parte do meu destino
Saber a raiz quadrada.
Cresci mais um bom pedaço,
Deixei de usar calções,
E com algum embaraço
Aprendi as equações!
Estes cálculos mentais
Que tive que entender,
Não foram nada demais,
Gostei de os resolver!
Mas… pensando bem agora,
Em todas estas operações,
Não sei pôr os noves fora
No cálculo das emoções.
Posso somar sentimentos
Ou multiplicar sensações?
Como subtrair pensamentos
Que dividem os corações?
A matemática da vida
Dá-me contas que não quero,
Tenho a cabeça perdida,
Nada me dá resto zero!

sábado, 12 de abril de 2008

Luz da noite

Quando a noite vai chegando
Para mandar dormir o Sol,
A Lua vai-me guiando
No escuro, como um farol.
Então, enquanto caminho
Pelo vale do pensamento,
Sei que já não estou sozinho
Na solidão do momento.
Vou pensando bem baixinho
Em tudo o que neste dia,
Me disseste com carinho
Nos momentos de harmonia.
Eu sei que de vez em quando,
Há uma nuvem caprichosa
Que teima em aparecer,
Enquanto vou caminhando
Nesta estrada sinuosa
Que tenho que percorrer.
Quando a noite fica escura
E não dá para caminhar,
A minha alma procura
O brilho do teu olhar.
E se por breves instantes
Ela o consegue encontrar,
É a cândida luz dos amantes
Que me passa a iluminar.
E por vezes no escuro,
Quando em ti estou a pensar,
No sentimento mais puro
Acabo por me encontrar!
Mas, quando a noite chega ao fim
Porque o Sol está a nascer,
Se tu estiveres junto a mim,
Em ti me quero perder!

sábado, 5 de abril de 2008

Mágoa

Vou comprar um prontuário
Que me ajude a decifrar
O novo vocabulário
Que teimas em me ensinar.
Vou marcar com uma fita
As páginas que eu mais usar,
Para não errar na escrita
Que o coração me ditar.
Nesta nova linguagem
Que me ocupa no momento,
Uma palavra é a imagem
Que me ilustra o sentimento.
Diz-se “macula” em latim,
E “sorrow” em inglês,
Quando a escreveste em mim,
Magoaste-me em português!
Há palavras complicadas
E outras que são vulgares,
Há frases mal conjugadas
Na escrita dos olhares.
Quando aprendi a escrever
Ensinaram-me as vogais,
E depois, as consoantes.
Mas não consigo entender,
Os verbos essenciais
Que flectem os amantes.
Eu gosto de me expressar
Num bem simples idioma,
Que se entenda sem estudar
Ou sem ter um diploma.
Eu amo o vocabulário
Que usou para versejar,
O grande poeta Camões.
Mas, eu quero um prontuário
Que me ajude a estudar
A língua dos corações.
Estou farto de pensar,
Preciso de um prontuário
Para não mais me magoar
Com o teu vocabulário!

domingo, 30 de março de 2008

Yin e Yang

Se o Sol é a mais brilhante
Das estrelas que há no céu,
E a Lua é a sua amante
Vestida só com um véu,
Porque são raras as vezes
Que partilham o calor?
Porque esperam tantos meses
Por um momento de fulgor?
Se o inconsciente alento,
Que dá vida ao respirar
Não é mais que mero vento
Que o coração faz soprar,
Porque teima o pensamento
Em fazer-me suspirar?
Se até o mais simples dia
Se divide em duas partes,
Sem recorrer a magia
Ou outras estranhas artes,
Porque não há-de o coração
Ter dois lados bem distintos?
Um, onde vive a razão,
Outro, onde moram os instintos!
Se o valor da felicidade
Compra um sorriso ao olhar
Que ofereço com amor,
Porque é que a falsa verdade
Que teimas em me mostrar
Apaga o fogo que arde
Com lágrimas da mesma cor?
Neste estranho universo
Que é fruto do “Big Bang”,
Ainda resta algum calor.
Tu és o Yin neste verso,
Mas serei eu o teu Yang
Neste poema ao amor?
Talvez descubra a razão,
Assim a sorte o permita,
Entretanto...
Há um coração
A viver como eremita!

domingo, 23 de março de 2008

Ponto fraco

Já dei saltos para o rio
De rochas bem escarpadas,
Já nadei com muito frio,
Em manhãs bem nubladas.
Já lutei para entrar no mar,
Contra a rebentação,
Com os braços sempre a remar
À espera da ocasião.
Não tenho medo das ondas
Que o mar faz ao respirar,
Gosto de as ver redondas,
Ter o prazer de as surfar.
Já fiz algumas descidas,
Em encostas inclinadas,
Já caí e já fiz feridas,
Já tive as mãos arranhadas.
Já trepei árvores frondosas,
Para espreitar os ninhos
Onde as aves cuidadosas,
Criam os seus passarinhos.
De todas estas aventuras
Que tive o prazer de gozar,
Mesmo as que foram duras,
Faço intenção de guardar.
Pensava eu que era forte,
Quase em todos os sentidos,
Vivi à conta da sorte,
Já tive ossos partidos.
Agora, quando te sinto,
Ou se te vejo a passar,
Adormece-me o instinto,
Apressa-se o respirar.
E então quando me dás
O prazer do teu olhar,
Fico à espera que te vás,
Não sou capaz de andar.
Provocas em mim tremuras,
E no calor do momento,
Tenho medo das alturas
Onde nasce o sentimento.
Da minha forma de ser,
Apenas resta um caco!
Bem… tudo isto deve ser,
Porque és o meu ponto fraco!

domingo, 16 de março de 2008

Quanto custa um beijo teu?

Os teus olhos são fogueiras
Que aquecem os meus dias
E os enchem de calor.
Podes dizer-me o que queiras,
Mas não mates as fantasias
Que alimentam o amor.
O teu olhar é o horizonte
Onde mora o pôr-do-sol,
Os teus lábios são a fonte
Onde bebe o rouxinol.
O teu jeito de sorrir,
Quando estás a ser sincera,
À rosa, ofusca o florir,
Num dia de Primavera.
Os teus cabelos a voar,
Livres como o pensamento,
Fazem as nuvens perguntar,
Porque as ignora o vento.
Todos os belos elementos,
Que compõem o teu rosto,
Inflamam-me os sentimentos,
Aquecem-me mais do que Agosto.
A tua forma de andar
É um hino à alegria,
Escrito com subtileza.
E até me leva a pensar,
Que houve uma fada, um dia,
A abençoar-te com a beleza.
Vivo a vida simplesmente,
Passo o tempo a sonhar,
Não tenho dinheiro meu!
Mas agora e de repente,
Eu tenho de perguntar...
Quanto custa um beijo teu?

sexta-feira, 14 de março de 2008

Meu rio dourado

Eu já fui filho de um rio,
Na idade de menino,
E tantas vezes com frio,
Enfrentei o meu destino.
Nadei entre as suas margens,
Embalado pela corrente,
Foram tantas as viagens
Que eu lembro saudosamente.
Eu já fui filho de um rio,
Que me ensinou a usar
Um anzol com um fio,
Para o peixe eu enganar.
Eu já fui filho de um rio
Que corre bem-humorado,
Num leito que não é esguio,
E nas margens é escarpado.
Sentei-me um dia a mirar
O fim do entardecer,
E vi a água a brilhar
Com as cores do anoitecer.
E foi quando eu estava ali
Sentado a contemplar
Aquele simples tesouro,
Que finalmente entendi,
Porque lhe quiseram dar
O belo nome de Douro.
Hoje, quando eu mergulho
Nas águas da minha infância,
Consigo ouvir-lhe o barulho,
Ainda lhe sinto a fragrância.
Eu nasci à beira-rio,
E ali fui educado,
Quando me lembro… sorrio,
Passei lá um bom bocado.
Se eu voltar a nascer
Noutra cidade ou país,
Certamente vou querer ser
Filho de um rio feliz.
Eu já fui filho de um rio,
Não vai dar para o negar!
Mas… quando chega o Estio,
Eu sou amante do mar!

sábado, 8 de março de 2008

Pobreza

Há tantas coisas na vida,
Que nos surgem pela frente,
E se gravam no olhar.
Muitas delas deixam ferida
Na limpa alma da gente,
E de uma forma sentida,
Até nos fazem chorar.
Um braço meio estendido,
De um corpo que o segura,
Dono de um olhar sofrido,
Para quem a vida é dura.
Uma ponte sobre um rio,
Ou que atravessa canais,
Por baixo, um velho com frio,
Dorme embrulhado em jornais.
Um cartaz em português,
Escrito à maneira do Leste,
E tu finges que não vês,
Ou dizes então que já deste.
Alguém que levanta o braço,
Dizendo: - Aqui tem lugar!
Venha cá, este é o seu espaço,
Faz favor de estacionar!
Um rapaz esfarrapado,
Agarrado a uma viola,
Onde um acorde bem dado,
Se troca por uma esmola.
Um corpo que está à venda,
Numa esquina já polida,
Num trabalho sem agenda,
De uma menos fácil vida.
A todos estes momentos,
Que assombram os olhares,
A ausência de sentimentos,
Já lhes deu nomes vulgares.
Há quem lhes chame azar,
Ou mera falta de sorte,
Há quem pare para pensar,
Há também quem não se importe.
Há muitos que são “doutores”,
E são senhores da certeza,
Guiam-se por outros valores
E a isto… chamam pobreza.
Eu… eu tenho só de lembrar
Que este é um mundo de cobiça,
E mesmo quase a chorar,
Agora que anoitece
Digo bem alto a gritar,
Tudo isto acontece,
Porque há falta de justiça!

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Então e o amor?

Quando o Grande Arquitecto,
Ao canto de um rouxinol,
Construiu o universo,
Deu-lhe o céu como tecto,
E colocou lá o Sol.
Pintou com as sete cores
O arco da aliança,
Para que a chuva ao cair
Pudesse pintar as flores,
Enquanto o vento as balança.
Sendo a Terra tão plana,
Com monótonos horizontes,
Em menos de uma semana,
Criou os vales e os montes.
Como a terra refrescar,
Também estava nos seus planos
Não foi fácil começar,
Mas lá fez os oceanos.
Já que a vida é uma viagem
Que não tem caminhos certos,
Para que existisse a miragem,
Também criou os desertos.
Terminando em perfeição,
Esta obra de valor,
Deu ao homem um coração,
Preencheu-o com amor!
E se tiver sido assim,
Que se construiu a Terra,
Eu tenho dúvidas em mim…
Porque existe tanta guerra?
Se a esperança é uma flor,
Que renasce em cada dia,
Porque existe tanta dor?
Onde está a harmonia?
Em todas estas questões,
Com o seu dito valor,
Há uma que é bem triste.
Todos temos corações,
Mas…
Então e o amor…
Será mesmo que existe?

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Praia da vida

As coisas simples da vida,
Como os puros ideais,
Estão numa praia comprida,
Nos mais finos areais.
Um raio de sol quente,
A ondulação do mar,
O voo de um parapente,
Uma gaivota a planar,
A brisa que levemente,
A pele vem refrescar.
Um castelo de areia,
Que alguém está a fazer,
Para a água da maré cheia,
Reclamar lhe pertencer.
O riso de uma criança,
Que os pés está a molhar,
No verde, da cor da esperança,
Que me encanta o olhar.
Um búzio bem luzidio,
À luz do Sol a brilhar,
Irá completar um fio,
Para um pescoço embelezar.
São estes simples momentos,
Tal e qual os grãos de areia,
Que alegram os pensamentos,
E tornam a vida cheia.
Esta praia é bem comprida,
Tão extenso é o areal,
Que o mar carinhosamente,
Lhe dedica a sua vida,
Afagando-o simplesmente,
Lavando-o com água e sal.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Esperança

Acordei…
Já largamente corria a madrugada,
Com o meu braço percorro os lençóis,
Encontrando no teu lugar, um frio de nada
E na almofada um fragmento de teus caracóis.
Abri os olhos e olhei…
A luz branca e pura da lua,
Entrava por entre as cortinas da janela,
Iluminando a tua silhueta nua,
Revelando a tua forma e mostrando como és bela.
Contemplando e admirando o teu porte,
De deusa do amor, como Afrodite,
O meu coração bateu mais forte,
Talvez, porque agora ele acredite,
Que afinal e realmente, existe o Norte!
Apesar de respirar o teu perfume,
E de tua presença eu notar,
Mais uma vez, como de costume,
Sonhei que estava a sonhar!
Sem ti, a cama está vazia,
No quarto não há luar,
Vem aí um novo dia,
É hora de despertar.
Mais um sonho desfeito,
Outra noite mal dormida,
Mas a esperança no meu peito,
Com a solidão como irmã,
Enquanto a razão lhe foge,
Diz-me com a sua voz sentida:
Se não a encontraste hoje,
Quiçá talvez amanhã...

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Desejos soltos

Partilhar uma amizade,
Um manjar ou um presente,
Chorar de felicidade,
Acariciar um ente,
Escolher com quem estar,
Ser apenas simplesmente.
Deleitar o paladar,
Saborear a vida,
Vivê-la pausadamente.
Beijar uma face querida,
Estar sentado à lareira,
Ruborescer de calor,
Dar a mão à companheira,
E sentir o seu amor.
Narrar minuciosamente,
Um momento à beira-mar,
Sentir-me completamente,
Na vida a flutuar.
No lótus, flor da mente,
Sentar-me em meditação,
Viver no meio de gente,
Que é pura no coração.
Ter vontade de sorrir,
Quando sonhar acordado.
Mais eu não vou pedir,
Estava a ser exagerado.
De tudo o que eu desejo,
Nada tem preço elevado,
Custa tanto como um beijo,
De um casal enamorado!

Pedalando

Às vezes quando pedalo,
Pelos caminhos da vida,
Durante a minha viagem,
Paro e faço um intervalo,
Para contemplar a paisagem
Desta estrada indefinida.
Quando penso estar perdido,
Pergunto-me: - Onde estou eu?
Não me vou dar por vencido
Sem primeiro olhar o céu.
Mas se não encontrar,
O caminho que eu queria,
Por certo vou procurar
Outro caminho, outro dia!
Gosto de fazer subidas,
Em certas ocasiões,
E é bom que sejam compridas,
Para aumentar as pulsações.
Sinuosas e inclinadas,
Por veredas escondidas,
Muito técnicas ou perfeitas,
Fazem de mim, as descidas,
Um aventureiro às direitas.
Quando abuso da aventura,
E o travão não quero usar,
Experimento a cama dura,
Que a terra tem para me dar.
Levanto-me esfarrapado
Pelo chão que me acolheu.
Ainda que tonto e magoado,
Pedalando lá vou eu.
Os “single-tracks” da vida
Não deixam facilitar.
Se não se conhece a descida,
Mais vale ir devagar!
Mas se caíres porventura,
Quando alguém te magoar,
Levanta-te que a vida é dura.
Não pares de pedalar!

sábado, 2 de fevereiro de 2008

As vogais da Amizade

As vogais da amizade
Sem as amigas consoantes,
Não são mais que meras letras
Vazias, insignificantes.
O primeiro “A” é de amigo,
Que nos faz agradecer
A magia dos instantes,
Quando diz: - Estou contigo,
Para o que der e vier!
O “I”, esse é de irmão,
Que mesmo sem ser de verdade,
Nos aquece o coração,
Quando diz que tem saudade.
O último “A”, de repente
Começa a autenticidade,
É claro e transparente,
Não esconde a verdade.
O “É”, mesmo acabando,
Inicia o entendimento,
E enquanto vamos falando,
Concordamos no momento.
Mas sem as três consoantes,
O Éme, o Zê e o Dê.
A amizade, alegre ou triste,
Nem que seja por instantes,
Existe! …
Mas não se lê!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Tempestade

Apareceste de rompante,
Sem respeitar a previsão.
Como uma tempestade quente,
E de força sem igual,
Num pequeno e morno instante,
Sopraste e derrubaste
As muralhas da razão.
Criaste um temporal,
De monotonia inconstante,
Com vento de ocasião,
Sopra… pára … e de repente,
Recomeça o furacão!

Para tentar entender
O que se estava a passar,
Li sobre a chuva e o vento,
Estudei o porquê da seca.
E num simples momento,
Quando não estava a pensar,
Eis que surge a resposta! … Eureka!
Está tudo no teu olhar!

Podes parecer tempestade,
Quando és brisa ou monção,
E sopras para afastar,
Quem não te diz a verdade
E te pode magoar,
Partindo-te o coração.

Consigo ver bem agora,
Tu não és quem queres parecer.
Bastou-me observar,
Para bem te entender.
Sei onde a resposta mora,
É mesmo no teu olhar!

domingo, 27 de janeiro de 2008

De todos e apenas de um

De todos os segundos da vida,
Alguns são inegavelmente eternos.
Das ondas de que é feito um oceano,
Algumas têm gravado o caminho do meu surfar.
De todos os pássaros que cantam pela manhã,
Alguns fazem parte do meu despertar.
De todas as gotas de chuva que caem do céu,
Algumas matam a minha sede.
De todas as searas embaladas pelo vento,
Algumas saciam a minha fome.
De todos os relâmpagos de uma trovoada,
Alguns iluminam a minha noite.
De todos os olhares,
Há um que me fascina.
De todas as minhas amizades,
Há uma que me prende.
De todos os sentimentos,
Há um que me confunde.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Um momento

Um momento,
Um raio de luz num quarto escuro,
A cor do pôr-do-sol numa tarde de Verão,
Uma gota de orvalho que escorre por uma folha pela manhã,
Um sorriso rasgado,
Um carinho,
Um elogio murmurado.
É assim o teu olhar!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Cheio de nada

Empatia, amizade, amor e paixão
Onde moram eles
No meu coração?
A empatia mora no rés-do-chão,
Olá! Bom dia!
Então como vão?
Um sorriso, um olhar, um momento fugaz,
Um acaso,
Um comentário de ocasião,
Parece simpático, este rapaz!
E chega a amizade, vai de elevador,
Mora mais acima, vive noutro espaço,
Dá cá um abraço!
Aceita esta flor.
Olha quem vem lá!
É o senhor amor,
Entra pela porta, com ar de respeito.
Mora em todo o lado,
É dono e senhor,
Do espaço no peito.
Ah! … Mas corem agora,
Ela vem deslumbrante,
A dona paixão, que estava lá fora,
Nem sequer tocou, entrou de rompante
Fez-me uma carícia, mudou meu semblante,
Tingiu-me a pele da cor da amora.
Está cheio o espaço, todos moram lá,
Espero que esteja assim amanhã.
Mas então de repente,
Uma corrente de ar,
Abre a porta da frente,
A senhora indiferença teima em entrar.
Diz que é ali que ela quer morar,
E todo o espaço ela vai ocupar.
Expulsa os outros sem olhar a nada!
Agora olho da porta da entrada,
Vendo um espaço vazio,
Tão cheio de nada.
Sinto um calafrio,
Na noite calada.
Onde está o calor?
Ficou tanto frio,
Voltem por favor!

Acerca de mim