sábado, 8 de março de 2008

Pobreza

Há tantas coisas na vida,
Que nos surgem pela frente,
E se gravam no olhar.
Muitas delas deixam ferida
Na limpa alma da gente,
E de uma forma sentida,
Até nos fazem chorar.
Um braço meio estendido,
De um corpo que o segura,
Dono de um olhar sofrido,
Para quem a vida é dura.
Uma ponte sobre um rio,
Ou que atravessa canais,
Por baixo, um velho com frio,
Dorme embrulhado em jornais.
Um cartaz em português,
Escrito à maneira do Leste,
E tu finges que não vês,
Ou dizes então que já deste.
Alguém que levanta o braço,
Dizendo: - Aqui tem lugar!
Venha cá, este é o seu espaço,
Faz favor de estacionar!
Um rapaz esfarrapado,
Agarrado a uma viola,
Onde um acorde bem dado,
Se troca por uma esmola.
Um corpo que está à venda,
Numa esquina já polida,
Num trabalho sem agenda,
De uma menos fácil vida.
A todos estes momentos,
Que assombram os olhares,
A ausência de sentimentos,
Já lhes deu nomes vulgares.
Há quem lhes chame azar,
Ou mera falta de sorte,
Há quem pare para pensar,
Há também quem não se importe.
Há muitos que são “doutores”,
E são senhores da certeza,
Guiam-se por outros valores
E a isto… chamam pobreza.
Eu… eu tenho só de lembrar
Que este é um mundo de cobiça,
E mesmo quase a chorar,
Agora que anoitece
Digo bem alto a gritar,
Tudo isto acontece,
Porque há falta de justiça!

1 comentário:

Anónimo disse...

Só um Homem com sentimentos consegue tratar um assunto destes com tanta beleza...esse homem é um poeta.

Xana Meireles

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