quinta-feira, 28 de maio de 2009

Foi...


Pé ante pé e de mansinho foi-se embora
Deixou um enorme espaço vazio
Levou consigo o que tinha trazido.
Agora, onde a alegria era escora
Resta apenas um oco frio
E um sentimento arrefecido.
Sem nada dizer ou demonstrar
Correu pela estrada fora
Foi-se embora de vez, para não voltar.
Já aqui não mora!

sábado, 1 de novembro de 2008

Beijos de Judas

Beijos dados no escuro
Da noite que abrigava
O negrume de um futuro
Onde uma lágrima morava.
Foram beijos simulados
Com sabor de amargo ardil.
Foram carinhos trocados
Na forma mais pueril.
Beijos dados com amor,
Com primor ou amizade
Não são sinónimos de dor
São os beijos de verdade.
Beijos assim não se dão!
São roubados, tão-somente!
Vão quebrando o coração,
Furtando a alma da gente.
Foram beijos de amor
Nessa história mal contada?
...
Agora, sem terem cor
São beijos da cor do nada.
Se alguém assim te beijar,
Tem cuidado, não te iludas.
Não te estão a oscular!
São puros beijos de Judas.

domingo, 1 de junho de 2008

In Felicidade

Há palavras que desenham
Em qualquer cara um sorriso
Não interessa como venham
Pode até ser de improviso
Mas há uma em especial
Que toda a gente procura
E não soa nada mal
Quando lhe chamam ventura.
Se a chegamos a encontrar
Na forma superlativa,
Podemos até chorar,
Ou rir de forma impulsiva.
Não se consegue comprar,
Nem tem marca ou modelo,
Pode a tez embelezar
Mas não dá brilho ao cabelo.
Costuma estar bem impressa
Na face de uma criança
Que vive a vida sem pressa
Embalada pela bonança.
Chega até a estar escondida
Num discurso imperfeito
E apesar de ser comprida
Cabe bem cá no meu peito.
Não há ocasião perfeita
Para a conseguir encontrar
E também não há receita
Ou modo para a formular.
Anda sempre acompanhada
Pela sua irmã verdade
E às vezes de mão dada
Com a prima sinceridade.
Basta viver simplesmente
Fazendo-o com alegria,
Aproveitar tão-somente
O melhor do dia-a-dia!
És difícil de encontrar,
Não deixa de ser verdade,
Mas continuo a pensar
Em ti, ó felicidade!
E quando eu te achar,
E tu fores dona de mim,
Ninguém te vai colocar
Aquele prefixo “In”!

domingo, 18 de maio de 2008

Não chores

Se choras porque estás triste
E te dói o sentimento,
Tu sabes bem que existe
Nesse preciso momento
Alguém que chora contigo
E que apesar da distância
Será sempre teu amigo
Em plena consonância.
Se choras só por vontade
Que a alma te faz cumprir,
Lembra-te, tenho saudade
De olhar o teu sorrir.
Mesmo quando estás triste
É belo o teu semblante,
Mas se por acaso sorriste
Ainda é mais radiante!
O choro faz parte da vida
Nos momentos de improviso
Mas para curar qualquer ferida
O melhor é o teu sorriso!

Frases caladas

Sentado na areia molhada,
Sentindo a brisa do mar,
Escutando a balada
Que a água toca ao deslizar,
Libertando o pensamento
Para que ele possa voar,
Abrindo as asas ao vento
Onde ele ama planar.
Quando o espírito fica livre
E ausente de fantasia,
Deixo que o corpo vibre
Respirando a maresia.
Sinto na face o calor
Daquela estrela brilhante
Que me aquece com o fulgor
Da luz mais inebriante.
Fecho os olhos e escuto
O que o mar me quer dizer
Aqui neste meu reduto
Onde me tento esconder.
Venho procurar respostas,
Às perguntas complicadas,
A razão que não me mostras
Nas tuas frases caladas,
O porquê da inconstância,
As mudanças de atitude,
A causa da circunstância
Que te rouba a quietude.
Nesta areia onde me sento
Há pegadas magoadas
Que as ondas do sentimento
Vão tornar dissimuladas.
A maré está a subir
Nesta praia abandonada,
Bem…
Está na hora de partir,
Para longe desta enseada.

domingo, 11 de maio de 2008

Modesta timidez

Há expressões que me faltam
No mais simples dia-a-dia
Quando as emoções me assaltam
Da forma que eu mais não queria
As palavras vão-se embora
No mais curto dos momentos,
Deixando sem qualquer escora
A expressão dos pensamentos.
Podem ser vários os motivos
Que me emudecem o falar,
Mesmo estando com amigos
Em quem posso confiar.
Um gesto mais atrevido,
Uma frase mais picante,
Um murmúrio ao ouvido,
Um olhar mais penetrante.
Não é grande a frequência
Com que eu sofro deste mal,
Não me afecta a convivência
Nem me põe no hospital,
Não é uma maleita grave,
Nem pede receituário,
É um momentâneo entrave
Para o meu vocabulário.
A esta razão premente,
Que não me deixa falar
E me afecta a fluidez,
Podeis todos vós chamar
Apenas e simplesmente
De modesta timidez!

domingo, 20 de abril de 2008

Tiquetaque

É no pêndulo oscilante
De um relógio pendurado
Que navega o instante
Entre o presente e o passado.
No espaço que percorre
O pêndulo vai desenhando
Uma linha que não morre,
Se a corda for durando.
Tiquetaque… tiquetaque…
É o ritmo cadenciado
Que palpita sem destaque,
Num coração sossegado.
Mas se um olhar se cruzar
Com outro bem atraente
O tiquetaque vai passar
A bater rapidamente!
Tiquetaque… tiquetaque…
É este o falar do tempo,
Numa língua sem sotaque
De perfeito entendimento.
E quando os lábios se beijam
Nos mais ardentes instantes
Os segundos não sobejam
No tiquetaque dos amantes.
Há horas que são compridas
E custam muito a passar,
Por vezes até deixam feridas
Bem difíceis de curar.
Os tiquetaques que a vida
Faz intenção de nos dar
Só a tornam bem vivida
Se os soubermos gozar!
E se há alguém que te diz
Que tu és especial,
Fazendo-o sinceramente,
É um tiquetaque feliz.
Podes não ter outro igual!
Aceita-o alegremente!

sexta-feira, 18 de abril de 2008

O Verbo

De que são feitos os beijos
Que teimas em me negar
No mais sóbrio dos ensejos
Quando te vejo ao luar?
Quem pintou esse sorriso
Que primas em franquear,
Da cor que o improviso
Acabou por foguear?
Quem te deu o caminhar
Que mostras exuberante
Se me tento avizinhar
Do teu alento anelante?
Quem assim te edificou
Era das artes mentor,
E por certo que corou
Quando te outorgou o fulgor.
É um discurso genuíno,
Enredado é o seu exórdio
Num português sibilino
Quase em jeito de nó górdio!
Mas eu vou simplificar
Para que possas entender,
Sem teres que me perguntar
O que eu te estou a dizer.
Vou então continuar,
E tu vais bem lentamente
Começar a conjugar
Um verbo que anima a gente,
E que eu passo a enunciar:
Qual é o presente do indicativo
Na terceira pessoa do singular
De um verbo que é transitivo
E dá pelo nome de “amar”?
...
Tens quase a resposta certa,
Não foi preciso pensar,
Nem te deste muito mal,
Mas para ficar mais correcta
Vais ter que lhe acrescentar
O teu pronome pessoal!

domingo, 13 de abril de 2008

Matemática da vida

Foi na escola primária
Que eu aprendi a contar
Os números que da Arábia
Vieram para me educar.
Desde o um até ao dez,
Passando pelos outros oito,
Para os contar com rapidez,
Eu tive de ser afoito.
Para escapar à reguada
Que exibia a professora,
Aprendi a tabuada
Sem usar calculadora.
Quando deixei de ser menino
E de jogar à apanhada,
Fez parte do meu destino
Saber a raiz quadrada.
Cresci mais um bom pedaço,
Deixei de usar calções,
E com algum embaraço
Aprendi as equações!
Estes cálculos mentais
Que tive que entender,
Não foram nada demais,
Gostei de os resolver!
Mas… pensando bem agora,
Em todas estas operações,
Não sei pôr os noves fora
No cálculo das emoções.
Posso somar sentimentos
Ou multiplicar sensações?
Como subtrair pensamentos
Que dividem os corações?
A matemática da vida
Dá-me contas que não quero,
Tenho a cabeça perdida,
Nada me dá resto zero!

sábado, 12 de abril de 2008

Luz da noite

Quando a noite vai chegando
Para mandar dormir o Sol,
A Lua vai-me guiando
No escuro, como um farol.
Então, enquanto caminho
Pelo vale do pensamento,
Sei que já não estou sozinho
Na solidão do momento.
Vou pensando bem baixinho
Em tudo o que neste dia,
Me disseste com carinho
Nos momentos de harmonia.
Eu sei que de vez em quando,
Há uma nuvem caprichosa
Que teima em aparecer,
Enquanto vou caminhando
Nesta estrada sinuosa
Que tenho que percorrer.
Quando a noite fica escura
E não dá para caminhar,
A minha alma procura
O brilho do teu olhar.
E se por breves instantes
Ela o consegue encontrar,
É a cândida luz dos amantes
Que me passa a iluminar.
E por vezes no escuro,
Quando em ti estou a pensar,
No sentimento mais puro
Acabo por me encontrar!
Mas, quando a noite chega ao fim
Porque o Sol está a nascer,
Se tu estiveres junto a mim,
Em ti me quero perder!

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