domingo, 20 de abril de 2008

Tiquetaque

É no pêndulo oscilante
De um relógio pendurado
Que navega o instante
Entre o presente e o passado.
No espaço que percorre
O pêndulo vai desenhando
Uma linha que não morre,
Se a corda for durando.
Tiquetaque… tiquetaque…
É o ritmo cadenciado
Que palpita sem destaque,
Num coração sossegado.
Mas se um olhar se cruzar
Com outro bem atraente
O tiquetaque vai passar
A bater rapidamente!
Tiquetaque… tiquetaque…
É este o falar do tempo,
Numa língua sem sotaque
De perfeito entendimento.
E quando os lábios se beijam
Nos mais ardentes instantes
Os segundos não sobejam
No tiquetaque dos amantes.
Há horas que são compridas
E custam muito a passar,
Por vezes até deixam feridas
Bem difíceis de curar.
Os tiquetaques que a vida
Faz intenção de nos dar
Só a tornam bem vivida
Se os soubermos gozar!
E se há alguém que te diz
Que tu és especial,
Fazendo-o sinceramente,
É um tiquetaque feliz.
Podes não ter outro igual!
Aceita-o alegremente!

sexta-feira, 18 de abril de 2008

O Verbo

De que são feitos os beijos
Que teimas em me negar
No mais sóbrio dos ensejos
Quando te vejo ao luar?
Quem pintou esse sorriso
Que primas em franquear,
Da cor que o improviso
Acabou por foguear?
Quem te deu o caminhar
Que mostras exuberante
Se me tento avizinhar
Do teu alento anelante?
Quem assim te edificou
Era das artes mentor,
E por certo que corou
Quando te outorgou o fulgor.
É um discurso genuíno,
Enredado é o seu exórdio
Num português sibilino
Quase em jeito de nó górdio!
Mas eu vou simplificar
Para que possas entender,
Sem teres que me perguntar
O que eu te estou a dizer.
Vou então continuar,
E tu vais bem lentamente
Começar a conjugar
Um verbo que anima a gente,
E que eu passo a enunciar:
Qual é o presente do indicativo
Na terceira pessoa do singular
De um verbo que é transitivo
E dá pelo nome de “amar”?
...
Tens quase a resposta certa,
Não foi preciso pensar,
Nem te deste muito mal,
Mas para ficar mais correcta
Vais ter que lhe acrescentar
O teu pronome pessoal!

domingo, 13 de abril de 2008

Matemática da vida

Foi na escola primária
Que eu aprendi a contar
Os números que da Arábia
Vieram para me educar.
Desde o um até ao dez,
Passando pelos outros oito,
Para os contar com rapidez,
Eu tive de ser afoito.
Para escapar à reguada
Que exibia a professora,
Aprendi a tabuada
Sem usar calculadora.
Quando deixei de ser menino
E de jogar à apanhada,
Fez parte do meu destino
Saber a raiz quadrada.
Cresci mais um bom pedaço,
Deixei de usar calções,
E com algum embaraço
Aprendi as equações!
Estes cálculos mentais
Que tive que entender,
Não foram nada demais,
Gostei de os resolver!
Mas… pensando bem agora,
Em todas estas operações,
Não sei pôr os noves fora
No cálculo das emoções.
Posso somar sentimentos
Ou multiplicar sensações?
Como subtrair pensamentos
Que dividem os corações?
A matemática da vida
Dá-me contas que não quero,
Tenho a cabeça perdida,
Nada me dá resto zero!

sábado, 12 de abril de 2008

Luz da noite

Quando a noite vai chegando
Para mandar dormir o Sol,
A Lua vai-me guiando
No escuro, como um farol.
Então, enquanto caminho
Pelo vale do pensamento,
Sei que já não estou sozinho
Na solidão do momento.
Vou pensando bem baixinho
Em tudo o que neste dia,
Me disseste com carinho
Nos momentos de harmonia.
Eu sei que de vez em quando,
Há uma nuvem caprichosa
Que teima em aparecer,
Enquanto vou caminhando
Nesta estrada sinuosa
Que tenho que percorrer.
Quando a noite fica escura
E não dá para caminhar,
A minha alma procura
O brilho do teu olhar.
E se por breves instantes
Ela o consegue encontrar,
É a cândida luz dos amantes
Que me passa a iluminar.
E por vezes no escuro,
Quando em ti estou a pensar,
No sentimento mais puro
Acabo por me encontrar!
Mas, quando a noite chega ao fim
Porque o Sol está a nascer,
Se tu estiveres junto a mim,
Em ti me quero perder!

sábado, 5 de abril de 2008

Mágoa

Vou comprar um prontuário
Que me ajude a decifrar
O novo vocabulário
Que teimas em me ensinar.
Vou marcar com uma fita
As páginas que eu mais usar,
Para não errar na escrita
Que o coração me ditar.
Nesta nova linguagem
Que me ocupa no momento,
Uma palavra é a imagem
Que me ilustra o sentimento.
Diz-se “macula” em latim,
E “sorrow” em inglês,
Quando a escreveste em mim,
Magoaste-me em português!
Há palavras complicadas
E outras que são vulgares,
Há frases mal conjugadas
Na escrita dos olhares.
Quando aprendi a escrever
Ensinaram-me as vogais,
E depois, as consoantes.
Mas não consigo entender,
Os verbos essenciais
Que flectem os amantes.
Eu gosto de me expressar
Num bem simples idioma,
Que se entenda sem estudar
Ou sem ter um diploma.
Eu amo o vocabulário
Que usou para versejar,
O grande poeta Camões.
Mas, eu quero um prontuário
Que me ajude a estudar
A língua dos corações.
Estou farto de pensar,
Preciso de um prontuário
Para não mais me magoar
Com o teu vocabulário!

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